quinta-feira, 18 de abril de 2013

Buenos Aires


Há dois dias eu e meu marido voltamos de nossa primeira viagem internacional. Como não pudemos evitar o clichê, escolhemos Buenos Aires. Sete noites e oito dias, muito para conhecer a cidade. Realmente apenas quatro ou cinco dias são suficientes. Mas mesmo assim foi uma viagem em tanto, sempre quis visitar um país estrangeiro, conviver com uma cultura, dinheiro e línguas diferentes. Tudo bem, não foi tão diferente assim, los hermanos não são tão apartados da América Latina o quanto pensam. Me pareceu que muitos argentinos acham que seu país é a Europa na América, mas a realidade mostra outra coisa. Aprender com o passado e viver o presente é muito melhor do que ficar apenas se imaginando no futuro. Acredito que o Brasil só começou a sair da miséria quando deixou de se imaginar como o "país do futuro".

Bem, a experiência do novo começou ainda no aeroporto de Guarulhos (tivemos que fazer uma conexão em São Paulo). Sempre ouvi sobre um tal de free shop que realmente valia a pena realizar compras. Mas durante as viagens domésticas tais lojas não eram tão interessantes assim. Preços nada diferentes do que achávamos em shoppings. Chegando em Guarulhos entramos no primeiro free shop, e nossa decepção continuou a mesma. Até que embarcamos para Buenos Aires, e fomos apresentados a um maravilhoso Duty Free, com preços em dólares e, agora sim, acessíveis! Free shops de verdade apenas em embarque e desembarque internacionais. Aprendido.
Antes de viajar a Buenos Aires lemos muito sobre os golpes que são aplicados aos turistas por muitos taxistas portenhos. Principalmente sobre a nota de 100 pesos (pegam sua nota e, como numa mágica, a trocam por uma falsa e dizem que foi você quem a deu). Entramos no táxi confiantes, com o dinheiro todo trocado, pois sabíamos, também pela internet, que o Aeroparque (o Aeroporto que fica dentro da cidade, como o Aeroporto da Pampulha em BH) até o centro ficava por volta de 50 pesos, não mais do que isso. Chegamos ao hotel na 9 de Julio: 120 pesos. Assustados, resolvemos não reclamar, pois poderia ter havido uma inflação nos preços, visto a instabilidade financeira que sempre acomete a Argentina. Soubemos que o taxista nos roubou porque, na volta, pegamos um táxi que nos informaram ser o fiscalizado, escrito em sua porta Radio Taxi, e pagamos pelo mesmo caminho e mesmo trânsito o valor de 54 pesos (4,50 pelo pedágio).

Quando fizemos o câmbio real-peso, fiquei maravilhado pela multiplicação de meu dinheiro. É muito bom trocar 500 reais por 1.250 pesos, não é mesmo? Não. 500 ml de água nos era cobrado 18 pesos em qualquer lugar que fôssemos. Pagar 7 reais por algo que eu pagaria no máximo 3 reais no Brasil foi um tipo de golpe no estômago: certamente teria que deixar de fazer muita coisa por causa dos preços altíssimos encontrados em terras portenhas. Mas enlouquecemos e deixamos de fazer apenas uma coisa: assistir a uma peça teatral, que estava por volta de 200 pesos. Em vez disso preferimos assistir a um show de Tango, estilo Broadway, pelo preço de 225 pesos cada entrada. Valeu a pena, assim como também vale comprar livros, muitos livros.

O mais interessante de Buenos Aires é poder realizar diversos passeios turísticos a pé. A cidade é completamente plana, e os pontos turísticos são relativamente próximos. Só é necessário prestar muita atenção -- muita mesmo! -- no trânsito. Antes de Buenos Aires eu achava os motoristas brasileiros uns verdadeiros animais no trânsito, egoístas e sem respeito ao pedestre. Agora os vejo como santos frente aos motoristas argentinos. No micro-centro vale a pena conhecer tranquilamente a pé o Obelisco na 9 de Julio, Teatro Colón, Congreso de la Nación Argentina, Museo Evita, Casa Rosada, Museo del Cabildo, Catedral de Buenos Aires (contendo o túmulo de San Martín -- líder da independência argentina, chilena e peruana). Só não recomendo os restaurantes desta região, pois, apesar de muito charmosos e tradicionais, o atendimento dos garçons não era bom (sim, devo falar que foi ruim na maior parte dos estabelecimentos -- e olha que demos gorjeta, apesar de nos ter sido cobrado um tal de servicio de mesa), além que achamos a comida sem graça. O famoso bife de chorizo argentino foi nossa maior decepção nesta viagem: duro, cheio de nervos e sem sal. Talvez seja má sorte na escolha dos restaurantes, quem sabe. Quando uma entrevistadora nos abordou no aeroporto em nossa volta ao Brasil, demos nota 3 (de 1 a 5) à comida argentina. Ela até fez careta. Lo siento, hermana.

Mas, claro, os vinhos foram excelentes, como imaginava. Encorpados, secos e saborosos. Ah, claro, servidos à temperatura ambiente. No primeiro dia foi difícil, pois éramos acostumados a pelo menos deixá-lo um pouco na geladeira antes de servi-lo, mas já no segundo dia lidamos bem com o fato. Tomamos todos os dias, às vezes duas vezes ao dia, e continuamos a mesma boa impressão que tínhamos dos vinhos de Mendoza. Outra boa impressão que tivemos da Argentina foram os deliciosos doce de leite e alfajor. Realmente deliciosos e bem-feitos.

Para os pontos turísticos um pouco mais longe de onde nos hospedamos pegamos o subte (metrô). Preciso ressaltar aqui o perigo de pegar metrô em Buenos Aires: no sábado de manhã, com poucas pessoas no trem, uma moça tentou roubar meu marido colocando disfarçadamente sua mão no bolso dele. Eu vi o ato e puxei imediatamente a mão dela, que saiu do vagão como se nada tivesse acontecido. Bem, apesar do transtorno, este meio de transporte nos foi muito útil, pois com ele visitamos os lindos bairros de Palermo e Recoleta. No primeiro, conhecemos o Museo de Arte Latinoamericano (Malba) com obras famosas de artistas de toda a América Latina, como os brasileiros Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Portinari, e os mexicanos Diego Rivera e Frida Kahlo. Tivemos a sorte de conseguir presenciar a exposição da artista contemporânea brasileira Adriana Varejão. Valeu a pena, apenas 30 pesos por pessoa para entrar. Também fica em Palermo o Jardín Zoológico (também chamado de Zoo Buenos Aires), muito interessante e organizado. Mas não é neste zoológico que as pessoas podem entrar nas jaulas e tirar fotos com as feras dopadas. Este se refere ao Zoológico de Lujan, fora da capital. Em Recoleta, fomos ao cemitério (muito bonito, mas não é tão interessante quanto imaginávamos) onde se encontra o túmulo de Eva Perón, simples e sem atrativo nenhum. É lá onde estão enterrados os grandes generais e ex-presidentes argentinos, mas fomos apenas pela Evita mesmo. Ainda em Recoleta estão a Floralis Generica (excêntrica flor gigante de metal que se fecha à noite), a arquitetura exuberante da Facultad de Derecho e o Museo Nacional de Bellas Artes. Dá para visitar estes três últimos a pé: vale a pena o esforço.
Como estávamos na terra do Tango, não pudemos deixar de assistir a um grande show, além de assistir a uma apresentação intimista num restaurante enquanto bebíamos un buen vino. Em Caminito também havia diversos restaurantes e bares que ofereciam apresentações de Tango, mas ficamos tão assustados com o que lemos na internet sobre roubos no bairro de La Boca que ficamos por lá apenas 10 minutos, o suficiente para ver como o local é bonito e divertido, além de ter podido apreciar a rua-museu, pelos menos um pouco. O bairro de San Telmo foi decepcionante, acredito que para quem gosta de antiguidades seja mais significativo. De lá apenas gostamos de uma boate chamada Boutique (ex-Museum): pessoas bonitas, apresentação de uma banda local, música boa e comida idem. Falando em comida boa, um excelente restaurante que conhecemos se chama Madero Buenos Aires, que se localiza no lindo bairro de Puerto Madero, cheio de edifícios modernos. Para finalizar nossa viagem, fomos ao Café Tortoni, considerado como o café mais tradicional de Buenos Aires, cheio de turistas e comida boa.

Uma viagem realmente ótima com uma companhia idem, que me despertou o interesse de continuar visitando outros países, além de aprender o idioma espanhol, que se mostra tão próximo do português, porém único.